Oi oi mentee,
Em uma sociedade onde, na maioria das vezes, o “normal” é sair do Ensino Médio e iniciar a faculdade ou carreira de trabalho, quem age de forma contrária pode ser colocado em uma situação de questionamento e dúvidas, seja pelos familiares, amigos ou por si mesmo. Isso pode ocorrer principalmente quando envolve traçar um caminho diferente para muitos, como estudar fora. Portanto, uma das possibilidades após o Ensino Médio ainda não muito conhecida é o Gap Year, também conhecido como “Ano Sabático”.
A própria tradução do nome (Gap=lacuna, brecha/Year=ano) já indica que este é um período — normalmente de 1 ano — em que o estudante se afasta de seus planos “normalizados” para se dedicar a outras tarefas, atividades e sonhos. Por inúmeras razões, o Gap Year é descrito positivamente, sendo frequentemente abordado como um momento para o autoconhecimento, estudo independente e desenvolvimento de projetos. Entretanto, o segundo Gap Year gera inúmeras incertezas acerca de ser benéfico, maléfico ou neutro na vida do estudante, especialmente em seu application.
Caso você, caro mentee, esteja refletindo sobre a possibilidade de ser aceito em universidades fora do Brasil estando já no seu segundo ano de Gap Year ou com dúvida se vale a pena aplicar novamente, esse artigo é para você!
Pontos Positivos
Diferentemente de um Gap Year tradicional de 1 ano, as faculdades esperam que você tenha motivos condizentes que justifiquem os seus dois anos de Gap. É importante destacar que o segundo Gap pode ser intencional ou não. Se você tirou intencionalmente dois anos, as universidades esperam que você tenha de fato colhido boas experiências e oportunidades, mas, acima de tudo, tenha amadurecido muito. Caso seus anos de Gap não tenham sido planejados, é importante que você descreva os desafios que você experienciou durante esse tempo (caso tenha) e que impossibilitaram a sua candidatura em anos anteriores. Evite mencionar, se for o seu caso, motivos como os descritos abaixo, pois eles podem não ser justificativas condizentes para as universidades:
- Não passei em universidades no meu primeiro application e por isso vou refazê-lo;
- Conheci o application somente depois de ter me formado no Ensino Médio;
- Não ganhei bolsa de estudos no ano anterior ou a que ganhei não foi suficiente;
- Não me planejei o suficiente no ano anterior, logo, meu application não ficou muito competitivo.
Independentemente de sua situação e tendo como foco o que você fez durante estes dois anos, busque contar a sua história, seja em uma essay ou em uma entrevista, destacando a relevância das suas experiências nesse período. Caso você tenha viajado, trabalhado, desenvolvido um projeto, cuidado de um familiar, tirado um tempo para si ou realizado um sonho, você tem histórias para contar!
Você se torna um candidato mais interessante quando mostra como cresceu e as lições que aprendeu, assim como ao demonstrar os motivos pelos quais você foi guiado a ir contra o padrão e como as consequências disso mudaram você. Venda a sua história e não a reduza por não ser igual a de quem está no Ensino Médio. Vale relembrar que cada pessoa tem sua própria trajetória e diferentes sonhos, logo, não cabe a você, mentee, basear-se totalmente na história de outro alguém.
Dada a maior disponibilidade de tempo, é um ótimo momento para buscar melhorar as suas notas nos testes padronizados, pois você terá cerca de 1 ano para criar um planejamento de estudos eficiente para você. Da mesma forma, você terá tempo para buscar desenvolver seu autoconhecimento como forma de aumentar sua certeza em relação ao que deseja estudar. Logo, questione-se sobre os diferentes aspectos envolvendo seu application, como seu major (e minor) e sua college list. Até porque a pessoa antes e depois do(s) Gap Year(s) pode ter descoberto novos objetivos e essa mudança precisa ser levada em conta.
Pontos a Refletir
Apesar dos pontos positivos em tirar um ou dois anos sabáticos, ao analisar a decisão de trilhar tal caminho não muito comum, é necessário também ponderar os possíveis pontos negativos antes de tomar a decisão final.
Um dos pontos que se deve ter em mente com muita clareza e que pode representar um ponto negativo é o seu ambiente escolar. Uma das partes importantes do application são as cartas de recomendação dos professores e do seu counselor. Por você estar afastado da escola por tanto tempo, talvez seus professores e a administração da escola podem não lembrar muito bem de como você se destacou durante o Ensino Médio e, dessa forma, culminar na escrita de cartas de recomendação genéricas e que não reflitam de forma fidedigna o seu perfil. Mudanças significativas no ambiente escolar, como a saída de professores e até mesmo de diretores, pedagogos, psicólogos e toda a equipe que te acompanhou durante o seu Ensino Médio podem ser situações que você também poderá encontrar.
O segundo ponto que deve ser levado em consideração é a validade dos test scores. Enquanto a validade do SAT e ACT é de cinco anos, a validade do TOEFL é de apenas dois. Caso você já tenha realizado alguma dessas provas em anos anteriores, talvez esse seja um ponto a ser levado em consideração, principalmente por serem testes caros e que demandam muito esforço e dedicação.
Um outro ponto de extrema relevância é a sua experiência acadêmica caso aceito. Estar fora do ambiente acadêmico por muito tempo, sem contato com atividades regulares e material de estudo fresco na memória, por mais que seja por motivos muito importantes e que podem mudar sua vida, é um desafio caso você seja aceito. A readaptação pode ser mais difícil do que para alunos que saíram recentemente do Ensino Médio.
Por último, o planejamento da vida profissional. Se você é uma pessoa que tem metas claras sobre o seu futuro profissional e atrasá-las pode representar um problema, este é um ponto muito importante a ser considerado, principalmente se você tem planos de trilhar os caminhos da pós-graduação pois são mais anos que devem ser adicionados ao total do planejamento.
Por fim, talvez o ponto mais importante para você refletir na hora de decidir tirar seu segundo Gap Year é:
De que maneira vou usar meu ano para o meu desenvolvimento pessoal e/ou acadêmico/profissional?
A chave para um Gap Year bem sucedido é que você mergulhe a fundo em experiências que lhe promovam amadurecimento e desenvolvimento e, sem dúvidas, é isso que as universidades esperam de você em um Gap.
A chave para viver dois Gap Years de sucesso: planejamento
Então vamos lá, depois de pesar os pontos negativos e positivos e perceber que eles mais impactam a sua experiência do que as suas chances de admissão, e tomar a decisão de tirar um segundo ano de Gap, comece o planejamento desde já e se prepare para refletir sobre os os possíveis pontos mencionados anteriormente. Em resumo planeje-se para os seguintes aspectos:
- Experiências no Gap Year: pense no que você pode fazer em seu segundo Gap Year para ele valer a pena. Você pode iniciar um projeto que sempre sonhou mas que nunca tinha tempo para isso; participar de um trabalho voluntário; fazer um estágio; iniciar um trabalho remunerado, etc.
- Autoconhecimento: sem dúvidas você precisa pensar sobre esse aspecto e desenvolvê-lo, pois as universidades de fato esperam que você tenha amadurecido durante este tempo e que não tenha feito-o apenas para refazer o processo de application.
- Cartas de Recomendação: se você já tem cartas de recomendação de anos anteriores, converse com seus professores sobre a possibilidade de atualizarem-nas com pequenos ajustes apenas. Caso você esteja no segundo Gap Year com a intenção de aplicar pela primeira vez, comece desde cedo contatando ex-professores que você tenha tido uma BOA RELAÇÃO e discutam sobre aspectos do seu Ensino Médio que o professor poderia destacar em sua carta. Sugerimos também que você deixe com os professores um pequeno “currículo” sobre as atividades que você se envolveu durante o Ensino Médio para auxiliá-lo(a) durante a escrita.
- Testes: se você ainda não realizou nenhum dos testes padronizados (SAT, ACT, Subjects) ou de proficiência (TOEFL, IELTS, Duolingo), você terá tempo para criar uma rotina de estudos para eles. Entretanto, caso você não tenha condições de fazer os testes ou acredita que não conseguirá atingir um bom desempenho, você poderá optar por se candidatar a instituições que não pedem esses testes, mas confira antes as políticas de todas as universidades antes de optar por não fazer os testes.
Relatos de Estudantes Que Foram Aprovados no 2º Gap Year
- João Vitor Quintanilha (Tufts University)
Em 2017, após formar-se no Ensino Médio, João foi aprovado em uma universidade nos Estados Unidos, entretanto, por não condizer com seus objetivos acadêmicos, decidiu optar por tirar um Gap Year e tentar novamente. Obstinado em conquistar suas dream schools, buscou utilizar suas oportunidades ao máximo, como por exemplo, ser intérprete da Admission Officer de uma universidade norte-americana, o que resultou em sua futura primeira oportunidade de emprego remunerado em uma startup de educação no seu próximo ano. Logo, sua vivência o encorajou a aplicar novamente.
João acredita que em momento algum foi prejudicado pelos 2 anos de Gap, porém, cabe ao aplicante ter experiências produtivas e, potencialmente, mensuráveis ou tangiveis, assim como utilizar o tempo disponível com o objetivo de melhorar as notas. Além disso, ele ressalta a importância do planejamento tanto no primeiro quanto no segundo gap.
- Kevin Ballen (Harvard University)
Apaixonado por fomentar engajamento social de impacto significativo em sua comunidade, Kevin Ballen, um jovem estadunidense, acabou tomando um caminho diferente de seus amigos.
Desejando que o sistema educacional e sua escola se preocupassem tanto com o serviço comunitário e o caráter quanto com as notas de matemática, ele construiu um novo programa de serviço comunitário após as aulas, uma aula sobre liderança e identidade, e trabalhou para mudar a cultura de sua escola. Kevin inicialmente tirou um ano sabático para trabalhar para o chefe de engajamento cívico e diretor de Serviços de Bairro da cidade de Boston e acabou se dedicando tanto que ficou dois anos, demonstrando planejamento e profundo comprometimento com seus ideais.
Segundo Kevin, durante seus dois gap years ele focou em seus interesses, algo que o ensinou muito e o ajudou a entrar em Harvard com muito mais maturidade e espírito de liderança.