Querido mentee,

Esse é um texto sobre rejeições.

Mas, mais do que isso, é sobre dar a volta por cima.

Parece que foi ontem que eu fiz meu primeiro practice test do SAT e tirei 1070. Na mesma época, eu recebi um e-mail dizendo que eu não fui aprovada no summer program que eu queria. Um ano depois, descobri que a única faculdade que me aceitou, dentre as 11 que eu tentei, não iria me oferecer bolsa.

Mas ninguém sabe que isso aconteceu. Talvez eu tenha comentado com uns 2 ou 3 amigos de algum grupo de application, mas ninguém além deles. A gente acaba espalhando pro mundo nossas vitórias e passando uma imagem de aprovação constante e se esquece de que, por trás de cada aprovação, podem ter acontecido várias rejeições — e ninguém sabe.

O fato é: todo mundo passa por rejeições na vida. Alguns mais, outros menos; alguns mais cedo, outros mais tarde. E o ano de application é um momento muito propício para elas, afinal, nós estamos tentando coisas extremamente novas e fora da bolha do sistema educacional brasileiro. Nós só esquecemos que ser rejeitado é normal.

Nesses três momentos específicos que eu citei, eu só conseguia chorar. Eu tinha notas boas na escola, fazia parte de vários clubes, tinha projetos de ciências, fui premiada em vários eventos… Enquanto isso, diversos colegas de grupos de application comentavam sobre seus scores perfeitos e aceitações em Ivy Leagues.

Então, eu me questionava: por que eu não conseguia me destacar lá fora? O que tinha de errado comigo? Será que na verdade eu nunca fui inteligente e as pessoas ao meu redor me enganaram esse tempo todo????

Mas eu precisava aceitar que as coisas não deram certo como o planejado. Eu tinha dado meu máximo, pedi ajuda para várias pessoas, gastei tempo e energia, e simplesmente não aconteceu.

Eu já tinha recebido “nãos” na vida. Porém, quando se tratou do application para universidades em si, após um longuíssimo ano de muito esforço, o impacto foi bem maior. Como se não bastasse ser o ano de vestibular, em que todos os meus amigos estavam desesperados, eu estava desesperada EM INGLÊS, me desgastando com extracurriculares, essays péssimas e notas muito abaixo do esperado. Todos sabem que não é um ano fácil e que se não priorizarmos nossa saúde mental, nós não conseguiremos priorizar mais nada.

Por isso, quando todas as rejections (e a generosa acceptance de 60 mil dólares) saíram, eu precisei fazer mais do que chorar. Aquele era meu sonho, alinhado com oportunidades únicas que eu sempre quis ter. Eu não podia desistir tão fácil.

Conversei com meus pais sobre a questão de me dedicar mais um ano (uma conversa bem difícil, que durou dias e serviria de assunto pra outro post inteiro), mandei mensagem para os meus mentores e refleti sobre que caminho eu escolheria naquele momento. Eu sempre quis estudar nos EUA. Tive experiências incríveis em universidades norte-americanas, onde estão localizados os melhores laboratórios do mundo. Eu teria aulas com pessoas do mundo inteiro, melhoraria meu inglês, veria o mundo de outras perspectivas...

Eu tinha mais uma chance para tentar e decidi que eu a usaria.

Sabe aquela regrinha da saúde mental? Foi com ela que tudo se tornou realidade. Me olhei no espelho e disse: “Esse ano é seu. Você não vai ligar para julgamentos de ninguém. Não importa se seu primo de 16 anos ganhou um Nobel, não importa se seu vizinho descobriu a cura do câncer. Você tem seu tempo, sua história e seu sonho.”

E nesse minuto de coragem, eu me inscrevi para as próximas provas possíveis. Mandei mais applications para summer programs. Contatei professores para eu continuar meu trabalho em laboratório. Comecei a fazer só aquilo que eu gostava e tudo com muita paciência.

Hoje, eu posso falar com o sorriso mais sincero do mundo de que 2018 foi o melhor ano da minha vida. Eu fiz um projeto incrível em um novo laboratório, comecei a aprender novas línguas, fui selecionada para participar do International Summer Science Institute em Israel e da Latin America Leadership Academy na Argentina… Eu pude me redescobrir! Cada atividade serviu para que eu aumentasse meu autoconhecimento e autoestima. Aproveitei ao máximo meu ano para definir minhas novas metas e inspirações.

Depois, usei toda essa inspiração para escrever um personal statement que definiu meu crescimento durante o gap year e ainda pude contar com a ajuda das pessoas que conheci para as recomendações e correção de essays.

Agora, fui aprovada na Rhodes College, em Memphis, que me deu tanto bolsa de mérito quanto de necessidade. E eu sei que estou indo pra faculdade com uma outra visão: sem me comparar aos outros, sem me menosprezar e sem medo de rejeições. E eu não poderia estar mais feliz.

Eu espero que você consiga atingir seus objetivos. E, se não acontecer, saiba que está tudo bem. Você pode tentar de novo, como eu fiz, ou pode definir novas metas. Muita gente acaba se surpreendendo e amando as coisas inusitadas que o destino traçou.

Vários colegas foram rejeitados comigo. E, após um ano, alguns também foram aprovados nos EUA, outros foram para a Europa. Alguns foram para as melhores universidades brasileiras, outros estão fazendo estágios em gabinetes e tem até um que abriu a própria empresa e está ganhando muito dinheiro. O segredo é nunca abaixar a cabeça e não deixar uma rejeição te abalar.

Lembrem-se: sem rejeições, não existiriam as músicas de Marília Mendonça.

Um grande abraço e muito sucesso!

Luiza Coutinho

Rhodes ‘23