O Lucas tem 18 anos, é do interior de Minas Gerais e se mudou para Belo Horizonte para fazer o ensino médio. Ele participou de programas de verão em ciências, toca guitarra e adorava ir pescar com seus amigos. Agora, o Lucas está se preparando para ir estudar em Columbia University, em Nova Iorque, e pretende estudar física.
De onde veio a ideia de ir estudar fora e como ela saiu do papel?
“No início do segundo ano, uma empresa que ajuda brasileiros com application foi fazer uma palestra na minha escola. Uma coisa que me chamou muito a atenção foi uma tabela que eles exibiram ligando médias escolares a universidades. Em 90+, estavam Harvard e Stanford. Foi aí que fiquei mais curioso e pensei ‘eu tenho média 90+, como isso funciona?’. Eu percebi assim que talvez me interessasse em ir para fora na faculdade. Desde a infância, pensava em ser médico e, por anos, esse objetivo permaneceu intocado. Durante o ensino médio, contudo, descobri o meio acadêmico e a pesquisa científica, e cheguei à conclusão de que queria ir para a área acadêmica da medicina. Pesquisando sobre universidades estadunidenses, eu descobri que existia o major em neurociência lá, o que me deixou muito animado para aplicar. Um segundo contato que eu tive e que me ajudou muito a consolidar a ideia de ir para os EUA foi com um ex-aluno da minha escola que fez application. Ele passou na nossa sala no segundo ano nos informando sobre o processo e oferecendo ajuda. Ele tinha aplicado early decision para Columbia e passou. Acabou que ele se tornou um amigo durante o meu application e me ajudou com todo o processo. Então a ideia de aplicar mesmo veio na primeira metade do meu segundo e se consolidou mesmo no segundo semestre.”
Como foi se preparar desde o segundo ano para o application?
“Eu comecei a fazer o que todo mundo leva como base. Trabalhei em manter meu boletim e participei de olimpíadas científicas. Eu também fui pesquisando mais sobre o processo, as provas que eu teria que fazer e sobre o que é realmente o application. Acabou que eu deixei para fazer a maior parte das coisas no meu terceiro ano mesmo, como marcar provas e começar a entender de fato como eu iria montar o meu perfil.”
Como foi a sua experiência aplicando sem mentoria?
“Foi muito boa no sentido de que eu amadureci muito, porque acabava que, muitas vezes, eu precisava correr atrás das informações e pesquisar sobre o que fazer ou não. Também não achei que foi tão difícil — foi por isso que eu procurei tanto uma mentoria. Percebi que a comunidade de applicants no Brasil é muito autossuficiente, no sentido de que todo mundo se ajuda. Eu tive acesso a muitos recursos no BSCUE e a upperclassmen que me ajudaram. Se, por um lado, eu realmente tive que correr mais atrás da informação às vezes, por outro, eu também fiquei muito feliz de fazer parte dessa rede. No fim, o que pesou mais para mim foram as essays. Eu achei que encontraria pessoas para corrigir todas as minhas, e eu não achei. Por isso, das 8 universidades para que eu apliquei, eu tive essays lidas para apenas 3 por pessoas que estudam nelas. Em partes, acredito que isso tenha acontecido por conta de eu ter atrasado a escrita. Isso é um segundo ponto também, porque não ter alguém que está ali te dando metas para seguir e te cobrando as coisas pode ser difícil, e acaba que, sem mentoria, é muito mais fácil perder prazos ou atrasar compromissos. Eu, por exemplo, não apliquei early decision para Columbia porque eu não tinha os materiais prontos.”
O que você acredita que tenha feito seu application se destacar tanto para Columbia ao ponto de você ser admitido e até ter recebido likely letter?
“De forma mais abstrata, eu acho que o meu application para Columbia ficou muito coerente e muito 'fechadinho'. As coisas fazem referências umas às outras. Agora, falando mais especificamente, de fato, quando eu fui escrever aquelas “Why Us?” essays e ler os sites das universidades, o de Columbia foi, com certeza, aquele com que mais me identifiquei. Eu gostei demais do Core Curriculum. Talvez, diferente de outras universidades, tenha realmente transparecido no meu application o quanto eu me encaixo na universidade, realmente “rola” um fit. Também destaco que Columbia foi uma das universidades para que eu tive gente para ler as minhas essays. Acredito que isso tenha feito toda a diferença. Foi muito estranho e, ao mesmo tempo, engraçado, porque eu ganhei likely letter de uma e fui rejeitado de todas as outras 7.”
Por que Columbia? O que você acha que é tão especial nessa universidade e que fez ela se destacar tanto pra ti?
“Fiquei encantado com Columbia sobretudo pelo Core Curriculum. Eu adoro física, mas também filosofia. Gosto muito de ter uma visão mais ampla sobre um mesmo problema, de analisar questões existenciais ou até cotidianas com vários olhares — um mais social, um mais biológico, um mais filosófico, um mais lógico e exato — e o Core de Columbia dá essa formação para as pessoas. Diferente de outras Liberal Arts Colleges, que colocam créditos que você precisa preencher com aulas em determinadas áreas (por exemplo, você precisa fazer 3 créditos de social sciences mas você escolhe as aulas), Columbia tem aulas específicas que todo mundo precisa fazer, como Literature Humanities e Contemporary Civilization. Aquelas eram obrigações que eu queria ter — eu realmente olhei para aquilo e pensei ‘caramba, que incrível’. Queria ler aqueles vários livros do período clássico, da modernidade da filosofia, pré-modernos… Fora as aulas de ciência, por exemplo Frontiers of Science, que aborda desde biologia evolucionária até astrofísica. Eu sempre quero ter gente com quem conversar sobre todos esses temas, e as aulas são baseadas em discussões com no máximo 22 pessoas em cada sala. Eu queria saber, por exemplo, a perspectiva sobre uma obra do Dostoiévski de um estudante de sociologia, um de economia, um de química e outro de engenharia.”
Você tem alguma dica para pessoas que estão aplicando esse ano e também não têm mentoria?
“Acho que a primeira dica é realmente tentar se ‘agarrar’ à comunidade de applicants e de pessoas que já estão estudando fora. Então, adiciona no facebook, manda mensagem, entra nos grupos de application no whatsapp. A segunda pode parecer propaganda, mas o melhor site que encontrei para tirar dúvidas do application e aprender sobre é o SuperMentor. Eu lembro que, por exemplo, tive muitas dúvidas quando estava preenchendo o CSS profile e e os forms de financial aid, e o SuperMentor tinha muita coisa que me ajudou e que simplificou muito o processo pra mim. Em terceiro lugar, uma questão de postura: não ache que você está em desvantagem porque você não tem mentoria ou porque você não passou em mentorias. São inúmeros os casos de pessoas que foram rejeitadas de mentorias e passaram nas universidades que queriam, pessoas que nem tentaram mentorias — como eu — e passaram em universidades incríveis. Então, não perca a esperança que você tem em si mesmo, a sua confiança no seu perfil, porque você não tem mentor. A comunidade vai com certeza suprir essa demanda.”