O Daniel é um jovem pesquisador natural de Pouso Redondo/SC, que passou pelo processo de application duas vezes e agora está se preparando para ir estudar na University of Richmond pelos próximos 4 anos. Ele fez curso técnico em informática no Instituto Federal Catarinense e pretende estudar Computer Science e Biology.
Como surgiu seu sonho de estudar fora?
“Quando eu era pequeno, eu sempre via na televisão pessoas indo estudar fora e achava muito legal, mas não fazia ideia de como eu poderia conseguir ir também. O tempo foi passando e no final do fundamental eu comecei a pesquisar sobre o que eu teria que fazer para tentar ir pra fora. No começo, eu queria ir pra Europa, depois pra Austrália e depois pro Canadá, mas daí eu fui pesquisando o que seria mais possível e decidi que eu queria aplicar pros estados unidos, pois era o um dos lugares mais viáveis de eu conseguir ir considerando que eu precisava de bolsa. No início do terceiro ano, eu apliquei para mentorias e para alguns programas de verão, o que me ajudou muito a entender mais sobre as etapas do application, pois o processo é bem semelhante. Então foi no começo do terceiro ano que eu decidi mesmo que eu queria tentar ir pra fora e comecei a realmente me esforçar para que isso acontecesse. Eu apliquei no terceiro ano, em 2018, e não passei. Daí eu tirei um gap year e apliquei de novo ano passado, em 2019.”
Como foi a sua experiência de aplicar duas vezes? O que você acha que mudou e o que você acha que aprendeu com isso?
“Eu comecei a pensar em aplicar no início do terceiro ano. Daí eu passei no Prep Estudar Fora, o que me ajudou muito a realmente conseguir terminar o application no terceiro ano. Porém, foi no terceiro ano que eu também descobri muitas coisas. Foi o primeiro ano que eu participei de feiras de ciências — fui pra FEBRACE e pra MOSTRATEC —, também consegui me envolver ainda mais com olimpíadas científicas e participei da Escola de Linguística de Outono. Então foi um ano muito cheio de coisas, mas ao mesmo tempo eu não queria deixar essas oportunidades passarem porque sabia que era a minha última chance de participar de tudo isso. No final, acabou que eu não consegui me dedicar tanto ao application — principalmente à parte das provas, em que não consegui tirar as notas que eu queria. Por causa disso, quando eu recebi o resultado das universidades, eu meio que já estava esperando. Como eu já estava meio que preparado para receber as rejections, foi até tranquilo de aceitar que eu não havia passado e de decidir aplicar de novo. Eu já tinha decidido que ir pra fora era o que eu queria, então nem entrei na universidade no Brasil. Meu mentor do Prep continuou me ajudando, eu também passei na Brasa no segundo ciclo e consegui outro mentor. A minha família também apoiou a minha decisão de aplicar de novo e também de fazer as provas de novo (o que era bem complicado pois eu tinha que viajar para fazê-las). Acho que ter esse apoio da minha família e dos meus mentores foi algo muito importante, e também ter certeza de que aquilo era o que eu realmente queria, porque talvez se eu não tivesse eu tivesse começado a faculdade no Brasil, recebido as rejections e nunca mais aplicado.”
Como você incluiu sua experiência com pesquisa e como você acredita que isso tenha tido impacto sua aprovação?
“Eu comecei a gostar de ciência através de olimpíadas científicas, com a OBMEP, como a maioria das pessoas começa. Quando eu fui pro IFC, eu comecei a participar de diversas outras olimpíadas e já no primeiro ano a gente tinha uma disciplina de iniciação científica — e foi aí que eu comecei a fazer projetos científicos mesmo. Além disso, como era um instituto federal, eu sempre recebi muito apoio para desenvolver pesquisa porque é algo institucionalizado na escola, o que foi muito importante para que eu conseguisse desenvolver os projetos que eu queria. No Common App, eu coloquei minhas olimpíadas como honors e as pesquisas que eu desenvolvi como Extracurricular Activities. Eu acho que eu tentei demonstrar bastante o tanto que eu gosto de fazer pesquisa e que é isso que eu me vejo fazendo no futuro. Eu acredito que, pelo menos pra U. Richmond, eu consegui passar isso muito bem. Eu fiz uma pesquisa sobre equoterapia e recentemente recebi um email de uma Admission Officer de U. Richmond falando que eles estavam muito felizes que eu decidi ir para lá e que lá eu era conhecido como o menino da equoterapia. Isso foi bem interessante porque eu escrevi meu personal statement sobre o quanto eu gostava de pesquisa e o quanto eu adorava esse projeto especificamente, que é algo que eu quero continuar fazendo na graduação. No final, eu acho que eu tentei demonstrar o quanto eu gostava de pesquisa, o porquê de eu gostar tanto de pesquisar e também falar especificamente dos projetos que eu fiz.”
O ano de application é muito difícil, o que leva muitas pessoas a desistir no caminho. Houveram momentos em que você se sentiu desafiado ou até mesmo pensou em desistir?
“Acho que todo mundo pensa em desistir em algum momento, principalmente quando se vem de escolas onde não há tradição de aplicar. É mais difícil ainda porque você se sente muito sozinho - tem o pessoal da mentoria, mas mesmo assim parece que tu é um peixe fora d’água e é muito estranho tu estar estudando pro SAT e o pessoal da sua escola estar estudando pro ENEM. Se sentir meio perdido foi algo que me fez pensar em desistir, pensar se aquilo era realmente o que eu queria e se eu não estava sonhando alto demais (porque quanto maior é o sonho, maior é o tombo, né?). Eu pensava muito nisso e talvez tenha sido exatamente por conta disso que o resultado do primeiro application tenha sido mais tranquilo de lidar: eu já sabia que eu estava me arriscando muito. Application é algo muito arriscado. Eu pensei em desistir nos dois applications. A gente duvida muito da gente, se questiona se a gente tem potencial para aquilo mesmo e também se pergunta muito o que o Admission Office vai pensar da gente. Porque uma coisa é o que tu fez e o que tu acha que é legal, mas tu não sabe o que eles vão achar legal. Então eu tentei buscar sempre apoio da minha família, dos meus mentores pra que eu tivesse outras pessoas envolvidas nisso e também pra eu saber que eu estava fazendo algo que fazia sentido para outras pessoas também. Acho que sair fora da curva e fazer algo que as outras pessoas geralmente não fazem (como participar de olimpíadas, fazer pesquisa ou aplicar) são coisas que exigem bastante coragem da gente.”
Há alguma parte do application que você teve dificuldade e se sentiu muito desafiado? Como você lidou com isso e o que você diria pra pessoas que também estão tendo dificuldades nisso?
“Justamente por ser algo muito novo pra mim, eu tive dificuldade em basicamente todas as partes do application. No terceiro ano o que eu mais tive dificuldade foram as provas, pois eu não consegui estudar o que eu queria. Eu meio que estava acostumado a fazer provas que eu não precisava estudar muito, então no começo eu achava que fazendo isso eu me sairia bem nas provas também, mas não deu certo. O problema é que eu tinha que estudar bastante mas eu também tinha muitas outras coisas pra fazer. Eu não consegui organizar muito o meu tempo no terceiro ano, mas foi algo que eu melhorei muito no meu ano de Gap. No Gap, eu me dediquei muito às provas porque sabia que era uma das minhas maiores dificuldades, consegui organizar meu tempo e pratiquei muito. Porém, uma coisa que eu senti muita dificuldade tanto no primeiro quanto no segundo application foram as essays. Eu sou muito de exatas, então pra mim era muito difícil escrever sem ser muito objetivo e criar uma narrativa legal. Tentar escrever as essays de um jeito que fosse legal de ler sem ser super direto foi algo que me desafiou muito no application.”
O que te deixa mais excited agora sobre ir para a University of Richmond?
“Eu vou pra U. Richmond como um Richmond Scholar e isso é algo que me deixa bem feliz porque eu vou ter alguns benefícios. Eu vou receber uma mentoria muito legal e um grant para poder fazer pesquisa no summer. Uma outra coisa também é que eles tem um programa de verão de pesquisa interdisciplinar antes de ir pra faculdade. Eu fiz pesquisa aqui no IF, nunca fui pago pra isso e, muitas vezes, até usei o meu dinheiro. Esse summer é um programa de pesquisa incrível que ainda por cima é pago, então é basicamente tudo que eu sonhei. Mesmo sendo antes da faculdade, esse programa já diz bastante sobre como vai ser minha experiência lá e sobre as oportunidades que eu terei. Ser Liberal Arts é algo muito importante também, porque um dos motivos que eu escolhi ir pra fora é justamente para ter essa educação mais ampla e poder explorar mais áreas.”
Eu queria te perguntar como está a sua situação de ir pra U. Richmond com toda a crise mundial do coronavírus. Você acha que isso vai impactar muito o começo da sua jornada nos Estados Unidos? Se sim, como você está lidando com essa quebra de expectativas?
“Eu não sei muito bem o que pensar porque a universidade ainda não tomou uma decisão definitiva sobre como será o fall term. Eles estão falando que querem muito que as aulas sejam no campus, mas tem a questão do visto que complica também por eu ser internacional. Acredito que é algo de bastante incerteza e eu estou bem ansioso e com medo do que vai acontecer, porque com certeza ter aula online no primeiro semestre não é o que eu esperava, mas ao mesmo tempo eu também estou mais tranquilo porque se tiver que ser online, será pela saúde de todo mundo. Eu também tinha alguns eventos pra participar que foram cancelados, então eu também já estou acostumando minha cabeça com isso.”